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CORAL
SITAR
O extraordinário guitarrista de estudio Vincent "Vinnie"
Bell esteve na vanguarda dos sons por quase 3 décadas,
desenvolvendo verdadeiras preciosidades. Uma das maiores criações
que Vinnie Bell ofereceu, tanto para o mundo da guitarra como
para a música popular, foi a Coral
Eletric Sitar, feita por Danelectro durante os anos de
67 e 68.
A
INFLUÊNCIA DA CÍTARA NA MÚSICA OCIDENTAL E
O DIFÍCIL APRENDIZADO
A
música pop de meados dos anos 60 foi muito influenciada
pela infusão de sonoridade oriental das cítaras
- com seu som estridente e permeado de zumbidos - onde
se destacavam os Beatles, seguidos posteriormente pelos
Rolling Stones e Yardbirds. Com isso os produtores de
discos ficaram numa dúvida cruel: por causa da
violenta investida do psicodelismo na música pop,
havia o desejo de se colocar cítara em seus discos,
mas poucos eram os tocadores deste instrumento nos EUA.
Por isso, Bell- que também tocava banjo, ukulele
(muito parecido com o nosso cavaquinho, só que
menor) e muitos outros instrumentos de corda - saiu à
procura de um professor de cítara, mas acabou descobrindo
que havia uma espécie de barreira de linguagem
que dificultava o aprendizado, pois Bell descobriu que
a nomenclatura ocidental para as notas musicais- do, ré,
mi, fá, sol, lá, si- era (e ainda é)
diferente do oriental sa, ri, ga, ma, pa, dha, ni- além
de não haver um padrão de afinação
para cítara indiana.
Com imensas dificuldades, Bell acabou aprendendo o suficiente
para tocar em estúdio.
Porém, os produtores começaram a se tornar
cada vez mais exigentes e conforme coisas mais complexas
iam sendo escritas para cítara, mas difícil
ficava de ler, pois a maioria das músicas para
cítara era baseada em improvisações.
Outro
grande problema era o transporte daquele grande instrumento
em forma de bacia, alem do fato de Bell sentia muitas
dores nas costas devido á posição
incômoda ao sentar-se no chão para tocar.
Por isso, ele decidiu produzir um instrumento que tivesse
o som de cítara, mas que pudesse ser tocado facilmente
por um guitarrista.
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BELL PÕE MÃOS À OBRA
Depois
de chegar a experimentar prender clips de papel as
cordas da guitarra, Bell percebeu que o sistema de
ponte usado na cítaras era uma boa idéia,
embora inviabilizasse a entonação para
a música ocidental. Trabalhando nisso, Bell
começou a conseguir uma boa reprodução
do som, começando a experimentar em guitarras
acústicas e, gradualmente, transferindo seus
conceitos para a elétrica.
Aproveitando o fato de estar, na época projetando
para a Danelectro (que fazia as guitarras Coral e
alguns amplificadores) e o dono da fábrica,
Nat Daniel, ter a patente da primeira unidade de trêmolo
eletrônico- não confundam com a alavanca
de trêmolo tradicional - e os primeiros amplificadores
com este dispositivo embutido do mercado , Bell sentiu
que não teria muitos problemas para criar uma
cítara elétrica que tivesse um comprimento
próprio para a escala , um design mas acessível
e que utilizasse a afinação padrão
para guitarristas. A primeira versão elétrica
- batizada como Coral Sitar , com a inscrição
"Vincent Bell Signature Design Electric Sitar"
no pickguard , cujo primeiro exemplar foi dado a George
Harrison, que quase não a usou , pois ela foi
emprestada a Spencer Davis- foi lançada ao
público em 1967, embora Bell já tivesse
um protótipo pronto em 64 e a Danelectro ter
liberado o produto antes da patente ter sido segurada.
Com
uma escala de 21 trastes, ela tinha um corpo radicalmente
curvado, uma ponte especial para produzir o som estridente
(sitarmatic) e um grupo de treze cordas em paralelo
com as seis cordas normais. Enquanto as pontes comuns
tinham (e têm ) o ponto de tangências
entre as cordas e a ponte o menor possível
(afim de prevenir o 'zumbido'), a ponte patenteada
por Bell e Daniel dava uma real importância
a esse 'zumbido'pois, sem aquele ponto de tangência
único para cada corda, esta 'zumbiria' até
aproximadamente o final da nota, quando ela iria tocar
em um ponto e entoar corretamente . Com isso, Bell
capturou o som característico da cítara
em seu instrumento elétrico.
CARACTERÍSTICAS
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As treze cordas em paralelo eram muito mais curtas
que as outras , tendo sido necessário o desenvolvimento
de um jogo especial , onde a corda mais grave era
.015, da segunda até a oitava era .011 e da
nona até a décima - terceira era .009
. Uma afinação cromática foi
adotada, com a corda mais baixa correspondendo ao
primeiro E da guitarra, e com cada corda subsequente
afinada 1/2 tom acima, até a décima
- terceira (que estava uma oitava acima da primeira).
Ao invés das tarrachas comuns, a seção
cromática da Coral Sitar tinha treze pinos
de pontas quadradas - mais parecidos com aqueles usados
nas harpas - que viriam a ser substituídos,
embora Bell considerasse que o seu comprimento dava
mais leveza e permitisse uma afinação
mais precisa com um esforço mínimo,
isso se comparado ao processo de afinação
de uma cítara adicional, é claro ...
Além disso, como as treze cordas estavam em
paralelo com as seis cordas, e angulares e próximas
uma das outras, foi colocada uma placa de acrílico
(
Plexiglass) acima delas, afim de evitar batidas acidentais
do antebraço contra as mesmas. Porém
mais estranho éra a sua aparência geral,
com um acabamento marrom - avermelhado (surgido por
acidente, quando Bell borrifou verniz vermelho com
excesso de tinner no instrumento,o que ocasionou uma
secagem muito rápida e uma série de
rachaduras, cujo efeito estético, Daniel adorou)
e uma forma completamente assimétrica, que
facilitava o posicionamento entre as pernas do músico.
TRISTE
FIM
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Depois
de lançar alguns modelos derivados -
como a Danelectro Sitar (bem mais barata e feita
de madeira maciça), um outro com doze
cordas e um baixo com seis cordas - a companhia
Danelectro/Coral foi vendida para a MCA. Como
a MCA queria se fundir com a Westinghouse ,eles
foram obrigados a se desfazer de diversas possessões
- estações de rádio, jornais
e cerca de seis fábricas de guitarras,
que foram simplesmente fechadas . Como a patente
foi atribuída á Danelectro, Bell
não conseguiu lançar mais nenhum
modelo de cítara, pois a MCA não
liberou os direitos de volta para ele (para
que isso aconteça, Bell tem que esperar
o prazo de validade desses direitos expirar.
Enquanto isso, milhares de músicos colecionadores
em todo o mundo procuram estas verdadeiras relíquias,
encontradas muitas vezes em estado lastimável.
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Bom, espero que tenha conseguido passar a vocês
um pouco da importância da iniciativa
pesquisadora e pioneira de alguns músicos
abnegados e que não se cansam de tentar
trazer novas sonoridades para este mundo. Um
abraço e até a próxima.
Marcus
Rampazzo
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