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FENDER
BASS VI 1974
A primeira vez que tive o conhecimento da existência deste
instrumento, foi quando vi o filme Let lt Be,dos Beatles ,rodado
durante as gravações do álbum de mesmo nome
de 1969. Além de prestar , atenção em todas
as cenas, pois tudo era novidade para mim, eu percebi que tanto
George Harrison quanto John Lennon usavam uma guitarra Fender
que me lembrava mais uma Jaguar. Mas havia algo estranho porque
o som que vinha daquele instrumento não soava como guitarra,
além de reparar que eles tocavam uma nota de cada vez,
como se fosse um contrabaixo (exceto na música" Dig
It``, onde John tocava como uma guitarra fazendo acordes e em
seqüências repetitivas.)
Bem,
depois de ter visto o filme umas dezesseis vezes, comecei
a entender que aquele instrumento, na verdade, era realmente
um contrabaixo de seis cordas. Mas isto só me foi
definitivamente esclarecido quando me deparei com o único
exemplar existente aqui no Brasil, que estava a venda
numa loja aqui de São Paulo. Quase não acreditei
quando o vi frente a frente, pois naquela época,
era um instrumento muito raro (e ainda o é). Para
vocês terem uma idéia, só vi esse
instrumento na mão de Jack Bruce (então
baixista do Cream, de Eríc Clapton ) e de Brian
Wilson , então baixista dos Beach Boys, além,
dos Beatles é claro. Na época não
tive condições de comprá-lo. Mas
por sorte, ele ficou lá me esperando por 11 longos
anos, pois ninguém entendeu que raio de instrumento
era aquele e para que servia. O Fender VI poderia ser
definido como uma mistura de um Jazz Bass como uma guitarra
Fender Jaguar. O mais intrigante é que ele tinha
uma alavanca (ou se vocês preferirem, um tremulo)
parecida com as usadas na Fender Jazzmaster . Mas o que
chocava a todos era a grossura das cordas, pois eram quase
como àquelas usadas num baixo só que um
pouco mais leves, afinadas uma oitava abaixo da guitarra
- além do set de on-off switches ser referente
a cada pick up (captador) individualmente. Só que
para complicar ainda mais, havia uma quarta (!) chave,
que alguns se aventuravam a dizer que seria uma chave
que fazia com que o instrumento soasse ora como guitarra,
ora como contrabaixo! Só que esta chave mágica
era na verdade, um atenuador de graves, que fazia com
que o Fender VI perdesse aquele som grave forte, característico
do contrabaixo deixando-o um pouco mais próximo
de uma guitarra . A alavanca possibilitava ao músico
fazer alguns acordes - como numa guitarra com efeito de
tremolo - além de possuir um abafador (muffle)
embaixo das cordas, próximo ao cavalete, que fazia
com que ele soasse muito parecido com o baixo Hofner.
Agora vamos conhecer um pouco mais da história
de como esse instrumento foi criado.
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Os
designs da Fender nos anos 50, sempre foram copiados
, de algum modo, por seus competidores. Por outro
lado, a Danelectro sempre com inovações
e mercadorias de qualidade, era um real desafio para
a Fender no final dos anos 50. Somente para irritar
os representantes da Fender nas feiras de instrumentos
musicais da época, a Danelectro colocou uma
Guitarra Danelectro e uma Fender Stratocaster uma
ao lado da outra, ligadas a um amplificador bem alto,
tudo para mostrar o humming (ruído) de uma
Stratocaster comparada com o total silêncio
de uma Danelectro (isso ocorria porque a Danelectro
era totalmente blindada, com uma folha de alumínio
de US$ 0.02 (dois centavos de dólar!), que
fazia com que a guitarra não tivesse nenhum
humming. Essa brincadeira irritou Leo Fender , que
tentou então colocar o pickguard de alumínio
em algumas Stratocaster. Só que este foi substituído
por uma chapa de alumínio embaixo do escudo
plástico, pois o pickguard de alumínio
anodizado deixava as mãos dos músicos
coloridas.
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Devida a essa competição existente entre
as duas empresas, Leo Fender decidiu criar um concorrente
para o contrabaixo de seis cordas da Danelectro (Long
Horn), que naquele tempo estava sendo muito usados
pelos músicos de country em Nashville. Mas,
nesse período, a Fender perdeu um pouco a trilha
do seu sucesso, simbolizado pelo slogan "mais
por menos", quando comparadas aos outros fabricantes.
Só que o Fender Bass VI não seguiu esse
caminho, pois Leo acreditava que poderia incrementar
o conceito de baixo de seis cordas do seu concorrente,
construindo um instrumento mais completo, com várias
inovações, para que pudesse de destacar
do seu concorrente. Dentre elas, estava a ponte ajustável,
o abafador, o corpo de madeira sólida com os
contornos tradicionais da Fender, chaves individuais
para cada captador e o mais incrível : um tremolo
flutuante , como os usados na Jazzmaster e na Jaguar.
O que realmente inviabilizou o sucesso de vendas deste
instrumento foi o fato de que enquanto o Danelectro
era vendido a US$ 119,95, o Fender Bass VI era vendido
a US$ 329,50, quase o triplo do preço, o que
era muito alto para um instrumento que não
era tradicional (nem como baixo nem como guitarra),
sendo usado como um acessório para projetos
musicais diferenciados . Por exemplo: os músicos
de country utilizavam o baixo de 6 cordas , ora para
dobrar as linhas de baixo feitas com instrumentos
tradicionais - que dava uma característica
marcante , devido ao seu timbre limpo e definido -
ora para dobrar algumas partes de guitarra.
Muito pouco para o sucesso definitivo do instrumento.
Marcus
Rampazzo
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