Entrevista
André Christovam
Aproveitando
uma folga na agenda do guitarrista,o Vintage Guitar conversou
com André Christovam, e descobriu verdadeiras preciosidades.Confira....
Fernando: Como você se interessou por guitarras vintage
? Qual foi sua primeira guitarra?
André
:Na verdade , antes de me interessar pela qualidade do instrumento
eu me interessei em guitarras em si.No começo dos anos
70 , mais precisamente em 74, eu tinha uma Strato 71, pois eu
fã do Cream. Assistindo ao concerto para Bangladesh , comecei
a notar a diferença entre minha guitarra e a do Clapton.
O que mais me chamou a atenção foi a diferença
no formato da soleta ( Headstock) ,que eu e o Marcus passamos
a chamar de "Cabo reto ", pois além de menor,
não tinha aquela cusrva acentuada.
Foi só nessa época que eu comecei a me interessar
por guitarras vintage e a estudar mais esse assunto.Em junho de
80 fui morar 1 ano nos EUA e 3 dias após minha chegada
foi até a loja do Norman ( Norman's Rare Guitar) . Saí
de lá com minha primeira Strato vintage , uma Strato 61
Coral Pink (Refinish) , muito usada , mas com o braço OK.
Fernando:
Quantas guitarras vintage você tem hoje? Quais você
mais gosta ?
André
:Vocês não vão acreditar , mas nenhuma.As
últimas que tinha vendi no ano passado. Não que
eu tenha deixado de gostar delas , mas chegou uma hora que pensei
: Não faz sentido levar uma guitarra de R$ 20.000,00 para
tocar em lugares onde nem sempre a acústica ou o PA são
de qualidade e portanto o som que chega a platéia independe
da qualidade do instrumento. Não vejo sentido em colocar
na estrada um instrumento caro para ganhar R$ 1.000,00. O mesmo
não ocorre quando gravo em estúdio e ai sim acho
que um instrumento vintage faz diferença. Nessa hora apelo
aos amigos.Agora de quais eu mais gostei .......? bom , posso
citar 2 , uma Fender Stratocaster 1962 , Olimpic White com escala
em Rosewood . Essa guitarra ficou comigo uns 18 anos , rodou o
mundo inteiro , esteve comigo em quase todos os shows que fiz
durante esse tempo.Eu a chamava de Dorothy. Vendi essa guitarra
em 2001 por US$ 12.000,00 , sendo que na época em que a
comprei no Rio de Janeiro, paguei US$ 720,00. A outra foi uma
Gibson ES-335,vermelha , 1964 com Bigsby original e custom plate.Os
humbuckers tinham um som cheio , encorpado , coisa de louco ,
e cheguei a usa-la em meu mais recente CD.
Fernando:
Existe ainda alguma que você gostaria de ter ? Qual seu
fetiche ?
André
:Ter essas 2 guitarras que acabei de citar de volta...risos......mas
sei que é utopia.Gostaria de ter um Gibson Les Paul Custom
1958 , para ter um som legal de Humbucker , e uma Fender Telecaster
com muito uso, com maple neck fabricada entre 56 e 58.Com esse
par consigo toda gama de sons possíveis.Em termos de fetiche
,gostaria de ter a correia que o Clapton usava no Derek and the
Dominos......Não me pergunte por quê...........Mas
falando de instrumento........hummmmmm, gostaria de ter alguma
guitarra que tenha sido de algum grande guitarrista , que tenha
participado de algum grande show ou gravação importante.Quem
sabe a ES-335 vermelha 1964 que o Clapton usou no Cream.
Fernando:
Por que você fala "uma Fender com muito uso" ?
André
:Porque eu não gosto de guitarra "mint" , muito
novinha. Você tem que ficar tomando muito cuidado para não
riscar , para não desvalorizar e perde a espontaneidade
de tocar.Também acho que guitarra para ficar boa tem que
ser tocada , não pode ficar guardada. Uma vez peguei uma
Fender Stratocaster 59 com pouquíssimo uso e a guitarra
era uma porcaria.Guitarra tem que ser usada , tocada , para adquirir
alma.
Fernando:
Como foi trabalhar no Norman ?
André
:Foi incrível , uma aula , ou melhor , uma pós-graduação
em guitarras vintage.Vi o acervo particular dele , instrumentos
que pouca gente tem acesso. Trabalhei lá em 1981 , quando
morei nos EUA.A loja era em Hollywood, no Hollywood Boulevard.
Lembro que ele na época , em 1981 , foi o primeiro a organizar
uma exposição de guitarras.Alugou um local grande
e começamos a preparar tudo. A primeira coisa que fizemos
foi catalogar todos os instrumentos que ele tinha. Minha função
era abrir o case e dizer para o Daniel Duran, sócio dele
naquela ocasião, o modelo e o numero de serie de cada instrumento.
A uma certa altura ao falar o modelo e numero de serie de uma
violão Martin , o Daniel me disse que eu já tinha
falado esse instrumento.Insisti que não , já que
eu conhecia bem todos eles. Quando fomos verificar , na verdade
o Norman tinha 2 instrumentos idênticos, no mesmo estado
mint e os números de serie eram em seqüência
!! Algo tipo 123426 e 123427 !!! Uma raridade.....O Norman ficou
tão feliz com a descoberta que me disse para escolher qualquer
guitarra Fender Stratocaster de um lote, e me vendeu por um preço
muito abaixo do real.Me confessou depois, que minha descoberta
o tinha feito ganhar US$ 10.000,00 . Hoje, o Norman é um
amigo de verdade. Na última vez que o visitei , ele insistiu
para que eu ficasse hospedado na casa dele.Foi difícil
dizer não , mas mesmo assim saímos juntos , jantamos
etc... Fico feliz em saber que hoje somos amigos realmente próximos.
Fernando:
Se pudesse ter só uma guitarra , qual seria ?
André
:Hummmmm...Uma Telecaster maple neck 58.Com essa guitarra consigo
todos os sons que preciso e mais gosto.
Fernando:
Qual o amplificador você considera o melhor , o mais completo
para o blues ?
André
:Bom, citaria 2 set ups.......O Fender Super pré-CBS Black
Face , com Uma Fender Stratocaster tambem pré-CBS maple
neck, que era o setup usado pelo Magic Sam e que eu considero
um dos melhores sons de Blues.Para estúdio , eu diria que
pode ser um Fender Princeton ou De Luxe , os 2 black face, com
a mesma guitarra. Bom , para quem gosta de Humbuckers , eu poderia
dizer uma ES-335 , plugada em um Marshall JTM 45. Mas aqui cabe
um parênteses , na verdade um pequeno segredo.No JTM 45
as válvulas tem que ser trocadas , substituindo-se as EL34
por KT66.
Fernando:
Qual re-edição você considera a mais próxima
do original ?
André
:Em primeiro lugar , eu acho que por melhor que seja a reedição
,ela chega no máxima a 60% de uma original , vintage mesmo.Não
adianta , a madeira tem que secar , as coisas tem que ir pro lugar
, e só o tempo faz isso.Agora , a melhor que eu já
toquei foi uma Gibson Gold Top re-edição do modelo
1955. Realmente um instrumento muito bom.
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